Dados do Censo 2010 indicam que 6,5
milhões de brasileiros têm algum tipo de deficiência visual. Mais de 528 mil
são incapazes de enxergar.
O presidente do Conselho Brasileiro
de Oftalmologia, Marco Antonio Rey, destacou que as principais causas de
cegueira são a catarata e o glaucoma, mas que ambas têm tratamento e os danos
são reversíveis.
Em entrevista à Agência Brasil, ele
explicou que as duas doenças, acompanhadas da degeneração macular, são
problemas relacionados ao envelhecimento da população. O diabetes também
aparece como causa importante da cegueira e pode comprometer a visão na fase
adulta, caso não seja tratado.
Outro aspecto da deficiência visual
envolve a catarata congênita e o glaucoma congênito, principais causas da
cegueira na infância. O problema pode ser diagnosticado por meio de um exame
simples, o teste do olhinho. De acordo com o presidente do conselho, qualquer
profissional de saúde pode dilatar o olho do bebê e avaliar o reflexo da luz no
local.
O exame deve ser feito em todos os
recém-nascidos antes que o bebê complete 1 ano. Caso haja alguma suspeita, a
criança deve ser encaminhada ao oftalmologista. “Quanto mais cedo, melhor. Só
que o teste não é obrigatório na rede pública. E toda doença, na criança, tem
que ter diagnóstico precoce, porque o olho e a parte sensorial estão sendo
formados”, explicou.
O oftalmologista alertou para os
cuidados durante o pré-natal, uma vez que a cegueira em recém-nascidos está
comumente relacionada à doenças adquiridas durante a gestação, como a rubéola e
a toxoplasmose. A dica é cumprir o calendário de vacinas da gestante e evitar
consumir alimentos crus fora de casa, além do contato com gatos.
Para a representante da Fundação
Dorina Nowill, Susi Maluf, a acessibilidade de quem tem algum tipo de perda de
visão melhorou, mas precisa avançar mais. “No Brasil, antigamente, a cegueira
era uma coisa menos percebida. Não existia preocupação em dar igualdade de
oportunidades. Hoje em dia, as pessoas começam a perceber que existe esse
público e a percebê-lo em todos os sentidos. Afinal, é um público que vai à
escola, que é consumidor, que trabalha”.
“Mas a população não vê que a pessoa
com deficiência visual é capaz de fazer qualquer coisa e ter uma vida
independente, como alguém que enxerga. Ao dar informação para a sociedade, você
esclarece, diminui preconceitos e barreiras e promove a inclusão”, completou.
Antônio dos Reis Costa, 54 anos,
perdeu a visão após um quadro de pressão alta seguido de um aneurisma. “Fui
tomar banho e, no banheiro, desmaiei. Fiz uma cirurgia, mas o sangue coagulou
na cabeça e provocou o aneurisma. No corte, o nervo ótico partiu e, desde esse
dia, não vejo nada”, lembrou.
“Cada dia é uma novidade que você
aprende e acrescenta. Mas, a princípio, não é fácil. O deficiente, quando nasce
sem visão, aprende a escrever em braile com mais facilidade. A gente é mais
cabeça dura. Eu, particularmente leio em braile, mas tenho muita dificuldade em
escrever”.
Amadeu da Paixão Caldeira, 59 anos,
foi diagnosticado com retinose pigmentaria e desaceleração da retina do nervo
ótico quando tinha 3 anos. Na época, a mãe percebeu que havia algum problema ao
vê-lo tropeçando muito nas coisas.
“Como a perda foi progressiva, minha
adaptação também foi. Hoje, ando sozinho, viajo sozinho e perdi o medo da vida.
Antes, eu procurava esconder a cegueira porque que meus olhos são normais.
Depois de frequentar a escola, assumi minha condição e comecei a usar a
bengala. Minha vida mudou para melhor”, disse.
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